Muitos, ao lerem o texto acima, questionam o rigor com que Jesus julgou a situação. Alguns chegam a descrever como uma “perseguição vegetal” da parte de Jesus para com aquela árvore já que estava claro que não era estação dos figos.
O contexto desse episódio, segundo o Evangelho era final de março, próximo do mês de abril. No Oriente Médio, a estação de figos inicia-se em junho e em agosto os figos atingem sua maturidade, sendo encontrados doces e saborosos.
Diferente da grande maioria das árvores frutíferas que primeiro dão folhas e em seguida frutos, a figueira possui um processo inverso. Ela traz, primeiro, à luz os seus frutos e em seguida mostra sua folhagem. Na ocasião, todas as figueiras na estrada entre Betânia e o Monte das Oliveiras estavam sem frutos, adequadas àquela estação. Apenas uma se destacava no meio de todas as outras. Esta, diferente das outras, expunha suas folhagens verdes, se destacando entre todas as árvores da estrada.
Jesus estava com fome. Olhando para aquela quantidade enorme de figueiras desprovidas de frutos, com galhos secos e sem folhas, avistou aquela que se destacava e que no mês de março estava produzindo folhagens que só deveria aparecer em junho ou mesmo agosto. Como o processo de produção de frutos da figueira é inverso, a presença de folhagem verde indicava que existiam frutos. Por isso Jesus procurava algo para comer. Ele vai até a árvore, mexe nas folhas e não encontra nada. Neste instante, Jesus amaldiçoa a figueira dizendo que nunca mais ninguém comeria fruto dela.
Em seguida, Jesus entra no templo e de lá expulsa os cambistas e mercadores que lucravam naquele lugar com a máquina da Religião. O que Jesus está querendo dizer a nós? Jesus está debaixo de uma figueira que não dá fruto, depois disso vai até ao templo procurar Deus e encontra cambistas, mercadores da religião. Amaldiçoar a figueria era apenas um capricho divino ou uma parábola?
Na verdade, amaldiçoar a figueira é uma grande parábola do que Deus espera de nós. O episódio significa intencionalidade. A figueira que grita que tem frutos, mas que é apenas folhagem junto com o templo que expunha suntuosidade e aparência, mas dentro não tinha nada se tratava de uma grande parábola.
Jesus está revelando qual é nossa verdadeira intenção ao se apresentar diante de Deus. Trata-se de uma propaganda enganosa. Anunciando algo que não existia. Tinham apenas folhas, mas sem frutos. Ao entrar no templo, Jesus não encontrou nenhum adorador. Apenas pessoas que queriam negócios. Era um lugar de manipulação.
Poderíamos citar também uma parábola sobre Israel. Em muitos lugares da Bíblia lemos a relação de Israel com uma figueira, na tentativa de produzir os frutos da religião, apenas como autoproclamação da falsa virtude. Jesus estava ensinando que Deus prefere a nudez própria à tentativa de camuflar a própria verdade no nosso ser, por meio de folhagens que não dizem nada. Como a figueira, pessoas fazem nascer primeiro o fruto da verdade e depois é que se transformam em qualquer forma de comportamento. Estamos lendo uma parábola de Jesus falando do senso de propriedade. Jesus não possui camuflagem. Em um casamento, Ele transforma água em vinho. Para multidões famintas, Ele multiplica pães e peixes para minimizar a fome. Jesus tem propriedade em tudo o que faz. Tudo tem pertinência.
O evangelho de João ilustra isso de maneira extraordinária. No capitulo dois Jesus transforma água em vinho. No capitulo três diz a Nicodemos que o reconhece como filho de Deus que ele deve nascer de novo para entrar no reino dos céus. Jesus desconstrói a lógica de causa e efeito do acadêmico Nicodemos por meio de uma pergunta que o empurra para uma dimensão da verdade simples. No capitulo quatro Jesus se encontra com uma mulher samaritana na beira de um poço, ao meio dia e sedento. Mesmo assim, Ele oferece àquela mulher a água da vida. No capitulo nove cura um cego de nascença e em seguida diz “Eu sou a luz do Mundo”. No capítulo Jesus ressuscita um morto e se define como a ressurreição e a vida.
As ações de Jesus possuem propriedade. Diante do cego ele não transforma a água em vinho, mas cura sua cegueira. Até na cruz, ele pede ao discípulo que cuide da sua mãe. Quando possui sede pede água. Quando o desespero bate forte e a dor insuportável chega, Ele grita a Deus e diz: Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes? Em Jesus tudo é próprio.
De manhã, Jesus teve fome. A figueira fazia sua propaganda. Ele chega feliz para saciar sua fome, mas não encontra nada. Aprendemos muitas coisas com essa parábola.
Primeiro: Deus não pede a ninguém que dê frutos fora da estação. Quando a estação não é de fruto, ele não exige o que não se pode dar. A verdade não é só o que é; a verdade também é o que não é. E a verdade do que é não é mais importante do que a verdade do que não é. Deus prefere todas as figueiras nuas. Ele não suporta a tentativa da gente fazer de conta.
Esta é a questão. Deus não quer que você viva de fachadas. Deus não exige mais que a verdade. Estranhamente é também com as folhas de uma figueira que Adão e Eva tentam encobrir seus pecados. Lá no Eden, a folha da figueira tentava tampar a nudez do homem. De volta à cena, a figueira está produzindo tanguinhas para esconder a nudez do fato de que não há frutos. Deus diz: tire a figueira, prefiro você nu, porque assim você tem salvação. Camuflado você está perdido. Se estiver nu, Eu posso te cobrir com meu sangue. Camuflado você vive na sua justiça própria e corre o risco de morrer na presunção da tua religiosidade.
Novos convertidos levam ao pé da letra a passagem de Lucas que cita a ocasião que o dono da vinha veio depois de três anos e cortou a videira porque esta não produziu frutos. Alguns pensam que Jesus irá cortá-los. Muitos já viveram isso e muitos ainda vivem assim, agora, neste tempo. Por causa disso, muitas pessoas começam a inventar frutos. Jesus está ensinando que não precisamos inventar ou fabricar nada. Não precisamos de “anabolizantes espirituais” para produzir frutos ou tomar injeções de fertilidade. Seu fruto acontecerá na estação própria, em verdade e na presença de Deus.
O que Deus deseja é que você seja você mesmo. O convite do Evangelho é para a libertação, mas nós impomos cadeias sobre as pessoas. Colocamos a salvação como jugos, na tentativa de vivermos uma vida que não é nossa. A nossa missão é ser alguém para este mundo, ou seja, eleger um parâmetro. Inventamos um fruto, fora da estação, um espetáculo de esterilidade e um show de folhagens sem frutos. É tudo camuflagem.
Olhamos para a vida e invertemos os papeis. Jesus está ensinando que devemos ser o oposto disso. Seja quem você realmente é. Produza frutos na estação certa e apenas isso. Mas você não será ninguém mais em Cristo, que não seja você mesmo em Cristo.
Não se pode falsificar a identidade espiritual. A verdade vai se tornar uma árvore reconhecida por Deus. Não estamos aqui formando clones que repetem o que o outro é. Somos sementes que precisam ser plantadas. Devemos ser imagem e semelhança de Cristo. Não somos deuses, somos mortais, um dia seremos incorruptíveis, com corpo ressuscitado em glória, mas ainda sim seremos nós mesmos. Veremos o que nos tornamos em plenitude em Cristo, mas ainda assim, seremos nós mesmos. Deus sabe as estações dos frutos. Viva em verdade e não em camuflagem. Não saia por ai mentido. Fale a verdade. Não faça show ou apresente um mostruário, demonstrando sua aparência.
Deus prefere sua nudez, porque esta Ele cobre. As folhagens são apenas autojustificação diante do pecado. Neste ministério, desejamos discipulos verdadeiros e de caráter. Hoje é dia de libertação das máscaras porque é tempo de crescimento verdadeiro. Precisamos encarar nossa verdade e realidade. Se não fizermos isso, continuaremos mostrando folhas pra Deus, sendo que Ele deseja ver nossos frutos.
O que mudaria em sua vida se hoje você descobrisse que o inferno não existe? Infelizmente muitos bordéis da cidade ficariam lotados de evangélicos. Se você está em Cristo, a sua vida não muda em nada, nem mesmo por causa da existência ou não do inferno ou mesmo do céu. O seu prazer está em Cristo. Não há nenhuma condenação para quem está em Jesus. Está consumado. Está feito. Quem poderia nos condenar nos justificou. Nada poderá nos separar do amor de Deus. Não tem inferno nem céu que nos motive ser de Deus. Eu sou de Deus por Jesus. Esse é o meu prazer e meu fruto nasce dessa alegria. Para mim isso é tudo.
Ap. Anselmo Valadão.